Entenda o que é esta competência, saiba como implementá-la em sua escola e conheça a proposta do Sistema Positivo de Ensino para ela
Entre as muitas novidades trazidas pelo Novo Ensino Médio, está a inclusão, obrigatória, do Projeto de Vida na escola. A proposta é criar um espaço que considere os alunos em perspectiva mais ampla do que apenas o ingresso no curso superior, sendo protagonistas da própria vida e não apenas sujeitos passivos de circunstâncias.
Porém, o Novo Ensino Médio tem gerado muitas dúvidas entre os gestores e professores sobre qual deve ser a abordagem e como o Projeto de Vida deve ser implementado. Por isso, vamos explicar neste post como este plano funciona e como implementá-lo, além de apresentar a proposta desenvolvida pelo Sistema Positivo de Ensino para essa competência.
Projeto de Vida na escola: O que é?
O Projeto de Vida na escola é um itinerário em que o aluno busca autoconhecimento para vislumbrar quem ele quer ser. Esse caminho se dá por meio de um processo que une planejamento e prática, no qual o aluno aprende a se conhecer melhor, identificar seus potenciais e interesses, definindo metas e estratégias para alcançá-los.
Mas é preciso tomar cuidado para não confundir esse plano com a definição de um passo a passo para o futuro. Projetar a vida é uma forma de dar sentido às nossas ações e isso pode ser feito por meio de um processo gradual, contínuo, intencional, lógico e reflexivo. Para isso, o estudante fará um exercício de projetar o futuro por meio dos sonhos, emoções e ambições e, depois, o representará em um planejamento de estratégias e metas.
Portanto, o Projeto de Vida no Ensino Médio é uma maneira de desenvolver a habilidade de projetar, valorizando as experiências e os sonhos do indivíduo.
O foco está no processo de ampliar o repertório do aluno, fazê-lo refletir sobre si e o mundo a sua volta, e se planejar. O resultado deve ser uma consequência desses fatores. Esse esclarecimento é bastante importante, pois ele diferencia o Projeto de Vida da visão vocacional de escolher uma profissão a partir da percepção atual do mercado de trabalho.
Como implementar o Projeto de Vida na escola?
Não cabe à escola assumir toda a responsabilidade pelo desenho do Projeto de Vida na escola. Algumas propostas pedagógicas podem trabalhar essa temática de forma periférica, abordando as temáticas relacionadas isoladamente ou de maneira mais fluida.
Mas a escola pode, sim, desempenhar um papel fundamental para apoiar seus alunos. E aqui vale destacar que, diferentemente de outras mudanças, a implementação do Projeto de Vida na escola não requer grandes investimentos financeiros. Ao contrário, o esforço é no sentido de ampliar os espaços de escuta e acolhimento dos jovens, apoiando-os nesse início de transição para a vida adulta.
Dicas para implementar o Projeto de Vida
- Pesquise e estude cases de escolas que integraram o Projeto de Vida ao currículo.
- Promova a participação dos pais e responsáveis neste processo.
- Identifique professores com perfil de tutor.
- Opte por metodologias ativas incorporadas a tecnologias digitais, como o ensino híbrido.
A proposta do Sistema Positivo de Ensino para o Projeto de Vida
Não existem modelos prontos de como conduzir o trabalho com o Projeto de Vida nas escolas. Por isso, foi preciso pensar, discutir e refletir muito sobre como abordar temas tão relevantes, mas tão pouco presentes nas escolas de modo geral. Para isso, contamos com uma equipe multidisciplinar, formada por editores, psicólogos, pedagogos, neurocientistas, médicos psiquiatras e professores.
Aspectos fundamentais sobre o Projeto de Vida
Não é uma disciplina
O primeiro ponto fundamental do Projeto de Vida do Sistema Positivo de Ensino é que não se trata de uma disciplina (componente curricular). Embora requeira a definição de uma carga horária mínima, não há exigências de provas e trabalhos aos quais se atribuirão notas. Portanto, no material que desenvolvemos, buscamos fugir da “didatização”. Vale ressaltar que não tratamos esses espaços como aulas, mas sim como encontros.
Tecnicamente, optamos por enquadrá-lo entre os Itinerários Formativos (IFs), cujos marcos legais estão estabelecidos na Portaria n.º 1.432, de 28 de dezembro de 2018. Essa leitura é altamente recomendável.
O professor ganha o papel de tutor
Outro ponto que pareceu fundamental no Projeto de Vida do Sistema Positivo de Ensino foi não conceber o condutor do trabalho como professor, mas como tutor. Ou seja, ele exercerá o papel de mediador, proporcionando as condições para que os espaços de diálogo se realizem efetivamente. Esse tutor deve assumir o papel de amparar, de ser guardião e de ser um pouco aluno também, reconhecendo que pode aprender muito com o grupo.
Acreditamos que essa figura será mais bem-sucedida se tiver uma postura aberta e flexível, sempre muito empática e com enorme capacidade de escuta, colocando-se verdadeiramente na posição dos alunos e procurando compreender seu ponto de vista. Resumindo, o tutor precisa ter espírito jovem.
Como funciona o Projeto de Vida do Sistema Positivo de Ensino
Nossa proposta é desenvolver o Projeto de Vida no Ensino Médio em seis módulos, um para cada semestre das três séries. A cada série, privilegiamos um tema norteador: Eu (1ª série), Eu e o outro (2ª série), Eu e o mundo (3ª série). Cada módulo é constituído de um conjunto de subtemas e títulos que abordam aspectos relevantes para apoiar os alunos no desenho do seu projeto.
Para esse trabalho, propomos as seguintes etapas:
- Contextualização – serve de introdução do assunto a ser discutido. Isso pode ocorrer por meio de uma HQ, um vídeo, uma música ou uma obra de arte, entre outros recursos, que, em alguns casos, são disponibilizados digitalmente. O objetivo é chamar atenção para o que acontece na vida real, de modo que os alunos tomem consciência do tema que será abordado.
- Reflexão – como o nome já indica, esta etapa consiste no momento em que os alunos são convidados, também de diferentes maneiras, a pensar com mais atenção nas diversas situações e aspectos da própria vida, de seu entorno e do mundo, a fim de se conectar emocionalmente com o tema em questão, de formar opiniões e, em vários momentos, de externá-la para os colegas, proporcionando discussões.
- Prática: tem como objetivo oportunizar aos alunos situações em que possam se expressar fazendo uso de diversas linguagens, inclusive artísticas. Por isso, há páginas com espaços reservados para que sejam feitos registros, anotações e comentários acerca do tema em debate. O objetivo é que a regularidade desses registros mostre aos alunos que tais recursos são preciosos para clarear uma ideia, indicar algo que merece um novo olhar ou repensar.
Materiais
Para cada módulo, além de um livro físico, configurado como caderno de registros e apontamentos, há outros materiais, como conteúdos digitais ou indicações de fontes e referências, que favorecem e ampliam as conversas e trocas de ideias.
Carga horária
Cada módulo prevê pelo menos 20 encontros (equivalentes a 20 aulas, para efeito de carga horária curricular). Se for possível, o tempo de cada encontro pode ser maior do que o regular de uma aula, sobretudo quando os grupos forem compostos de muitos alunos.
A experiência de quem já implantou
Confira o depoimento e as dicas da Irmã Isaura, do Colégio Scalabriniano Nossa Senhora Medianeira, Bento Gonçalves (RS):
“O Projeto de Vida está sendo posto, na matriz, como componente curricular, com uma hora a mais, nos últimos quatro anos. No primeiro momento, foi colocado no contraturno e sempre com frequência de 99% de alunos quando não, 100%. Iniciamos com o Ensino Fundamental II e, por solicitação dos alunos, passamos para o Médio. Trabalhamos a partir de quatro módulos em forma de processo até o Ensino Médio. O professor conteudista não tem condições de assumir tal aprendizagem, digamos tal crescimento como pessoa. Ele é o motor que impulsiona o autoconhecimento. Se o professor não comungar com o propósito da escola, que é o da humanização, toda proposta cai por terra. Este é o grande desafio.”
Conduza este projeto como sendo um privilégio para o aluno, professor, família e escola. Precisamos também de muita reflexão, meditação, e diálogo com os professores.”
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