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O Projeto Político Pedagógico: um guia para a comunidade escolar em tempos de pandemia

16 agosto 2021 | Sem categoria

Enquanto documento que expressa a identidade e os horizontes da escola, projeta suas ações e reflete a concretude de seu projeto educativo, é imprescindível que o Projeto Político Pedagógico (PPP) seja uma resposta efetiva e consequente com a nova realidade híbrida dos processos de ensino e aprendizagem.

“Se planejar é sinônimo de conduzir conscientemente, não existirá então alternativa ao planejamento. Ou planejamos ou somos escravos da circunstância. Negar o planejamento é negar as possibilidades de escolher o futuro, é aceitá-lo, seja qual for” (MATUS, 1996).

Sob diferentes enfoques, conceituais ou práticos, nas escolas ou nas universidades, o PPP tem sido objeto de estudos com vistas à melhoria da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. E isso tem pelo menos uma razão muito específica: o PPP constitui “a própria essência do trabalho que a escola desenvolve no âmbito do seu contexto histórico, o que significa a singularidade de cada projeto” (VEIGA, 1998, p. 11).

Um projeto singular, construído coletivamente por seus autores e atores e que tem na escola o “seu lugar de concepção, realização e avaliação”, enquanto tradução em documentos e processos das intencionalidades pedagógicas da escola construídas com base em seus estudantes e na realidade em que se situam.

F004_ ©Shutterstock/Halfpoint

Dimensões do PPP

Engloba três dimensões indissociáveis e complementares na expressão da identidade, da finalidade e das ações da escola: é projeto, é político e é pedagógico.

É PROJETO, porque se refere a uma projeção que se expressa como um horizonte a ser buscado, um olhar de perspectiva. Estabelece, com base nas leituras da realidade, na escuta e nas escolhas feitas, as prioridades, as metas e os planos de ações. Ao acolher e buscar integrar de forma coerente as identidades, as intenções e as práticas, é tanto ponto de partida quanto de chegada para a Instituição, uma vez que pressupõe uma dinâmica constante de revisão conceitual e estrutural das práticas escolares e educativas, dos recursos disponíveis, das metodologias utilizadas, das marcas do currículo da escola, das formas de entrega de seus princípios éticos e de suas concepções pedagógicas e didáticas.

É POLÍTICO, porque necessariamente participativo, concebido, realizado e avaliado de forma orgânica e contínua na escola, com base na atuação, no diálogo e na articulação com diferentes agentes. Sendo a escola uma prática social, permeada pela diversidade e interesses de diferentes agentes e setores, necessita garantir sua articulação e engajamento desde sua construção até sua aplicação e avaliação contínua.

É PEDAGÓGICO, voltado para a essencialidade do trabalho da escola, no desenvolvimento de processos de ensino e aprendizagem por meio de vivências e experiências que façam sentido na vida de seus sujeitos. Aproximando realidades contextuais em prol das necessidades de aprendizagem e desenvolvimento pleno dos estudantes, teorias pedagógicas e diretrizes nacionais, estaduais e regionais, busca integrar todos estes elementos em torno de uma missão educativa assumida coletivamente, uma plataforma de valores, de ideias e de princípios que sustentam as práticas da escola.

O PPP enquanto processos de rupturas com o presente e de promessas para o futuro

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores” (GADOTTI, 1994, p. 579).

Enquanto processo que implica continuidades e rupturas, o PPP contém o posicionamento da escola, sua coragem de assumir o risco do novo e da projeção de uma “promessa” a uma comunidade escolar, enquanto resposta às necessidades de seus estudantes e dos contextos em que estão inseridos.

Em relação a isso, vale destacar que estamos vivendo uma situação inédita para a escola. A pandemia da Covid-19 tem infligido a cada um de nós, às sociedades e à escola o desafio de se reinventar e se planejar para minimizar seus impactos e elaborar respostas diante desta “nova anormalidade” de processos pedagógicos ativos e híbridos em que se conjugam o presencial e o remoto, o on-line e o off-line, o individual, o colaborativo e o tutorial, e as ferramentas tecnológicas digitais.

Condizente a isso, convidamos você a pensar sobre essa identidade da escola em diálogo com a realidade: Quais as rupturas com o presente e as promessas para o futuro que podem tornar sua escola apta para atravessar e superar este tempo de instabilidades e incertezas?

Até nossa próxima edição!

Prof. Flávio de Souza, Assessor da Área Pedagógica/SPE

ffsouza@positivo.com.br

Referências:

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção coletiva. In: ______. Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1998, p.11-35. | GADOTTI, Moacir. Pressupostos do projeto pedagógico. In: MEC, Anais da Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 28/8 a 2/9/94. | MATUS, Carlos. Adeus, senhor Presidente: governantes governados. São Paulo: Edições Fundap, 1996.