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Neurociência na educação: como ajudar as crianças a se desenvolver

15 junho 2020 | Ensino

Entender como o cérebro funciona permite pensar novas formas de estimular os pequenos ao aprendizado

Você já ouviu falar em neurociência? Como o próprio nome sugere, trata-se da ciência que estuda o cérebro humano. É um campo novo, mas extremamente importante, e que nos permite começar a compreender a dinâmica do desenvolvimento cerebral, ou seja, como nós pensamos e aprendemos.

É por isso que essa ciência, que se desenvolveu junto com as recentes evoluções tecnológicas, tem contribuído muito para o processo de ensino e aprendizagem das crianças, como explica a neurocientista Carla Tieppo. “É tudo novo para a sociedade humana e a educação tem muito o que se beneficiar disso, especialmente quando o assunto são os pequenos, que são o grande mistério de quem os observa”, afirma.

Conhecendo as estruturas do cérebro, seu funcionamento e sua complexidade, conseguimos traçar estratégias que facilitam e potencializam o aprendizado das crianças. Hoje, ao contrário do que pensávamos, temos evidências científicas de que os seres humanos são capazes de aprender de diferentes formas e respondem de maneiras distintas aos estímulos que recebem.

Mas o que isso quer dizer na prática?

Significa que aquele velho pensamento, que você como pai ou mãe provavelmente experienciou na infância, de que o conteúdo é o maior e, muitas vezes, o único estímulo dentro da sala de aula já foi vencido. A neurociência veio para esclarecer que o importante não é o conteúdo, e sim a função cerebral que ele é capaz de estimular e que essa mesma função pode ser estimulada de inúmeras outras formas.

Isso quer dizer que o mais relevante é agirmos como mediadores da aprendizagem para as crianças, ao fornecer a maior gama possível de estímulos e observar a quais deles ela reage positivamente. Permitir que a criança interaja com o mundo, com diferentes objetos, estruturas, texturas é bem melhor do que impor que ela, ainda na Educação Infantil, decore uma sequência de códigos. “É mais importante a criança aprender a necessidade de mensurar do que aprender os números”, exemplifica Carla.

Essa mudança de abordagem que a neurociência nos permite pensar está refletida inclusive nas mais recentes diretrizes para a educação. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC),  por exemplo, entende que na Educação Infantil tudo acontece por meio da interação e da brincadeira e, por isso, não propõe conteúdos para esse nível e sim campos de experiência.

Toda criança é inteligente?

Para responder a essa dúvida comum dos pais é preciso refletir sobre o que significa ser inteligente. Antigamente, uma criança considerada inteligente era aquela que desenvolvia a  inteligência verbal e lógico-matemática. Além disso, acreditava-se que era necessário que ela tivesse uma predisposição genética para tanto.

Para a neurociência, a inteligência nada mais é do que a capacidade de fazer conexões cerebrais em qualquer nível e em qualquer área. Ou seja, apresentar habilidades para a prática de exercício físico ou a capacidade de se relacionar bem com os outros são exemplos de manifestações de inteligência.

Atualmente, sabe-se que mesmo crianças que não apresentam o fator genético são capazes de fazer essas conexões cerebrais. “Esse gene gera uma tendência, ou seja, se essa criança for estimulada ela terá como se desenvolver. Mas eu posso modular os estímulos para que crianças que não têm uma genética tão facilitadora atinjam a mesma categoria de inteligência”, explica Carla.

Esse estímulo pode se dar de formas múltiplas, como por meio de atividades, interações e mediações. Por isso, a especialista tranquiliza os pais: “Nós não precisamos estar extremamente preocupados com qual manifestação de inteligência a criança vai trazer, mas sim em dar a ela todo o espaço necessário para que construa essa inteligência”.

Para praticar agora: escuta atenta e olhar sensível

Os pais são os maiores mediadores de interações que a criança pode ter. Assim, uma dica que Carla dá para quem quer estimular os filhos a se desenvolver a partir dos aprendizados trazidos pela neurociência é: “Faça mais perguntas do que dê respostas, ouça a criança”. Por exemplo, se seu filho pergunta algo a você, ao invés de seguir pelo caminho mais simples e respondê-lo, questione o que ele pensa sobre, o que ele acha que é a resposta. Dessa forma, você vai estimular as conexões cerebrais que vão auxiliá-lo em seu desenvolvimento intelectual, cognitivo e motor.

Saiba mais sobre o assunto

Ficou interessado e quer entender mais sobre a influência da neurociência na educação? Confira a conversa na íntegra entre Aline Pinto, pedagoga e especialista em psicopedagogia, e a neurocientista Carla Tieppo. O bate-papo fez parte do Encontro de Pais, umas das ações promovidas pelo SPE Com Você. Aproveite e se inscreva em nosso canal no YouTube para não perder as próximas lives.