Entrevista com Eduardo Deschamps: Entenda o Novo Ensino Médio.
No Dia Positivo 2021, evento realizado anualmente para os gestores das escolas conveniadas, um de nossos convidados especiais foi o professor Eduardo Deschamps. Docente na Universidade Regional de Blumenau, com MBA em Liderança e Gestão Pública, ele é membro do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação (2016-2018) e presidiu as comissões do Sistema Nacional do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
No evento, Eduardo Deschamps compartilhou sua experiência no envolvimento com a criação da nova proposta, além de apresentar referências de Ensino Médio pelo mundo. O Novo Ensino Médio tem sido um dos principais assuntos no universo educacional brasileiro atual. A proposta representa a maior mudança na educação do país nos últimos 20 anos e, como não poderia deixar de ser, tem mobilizado escolas, que já iniciaram a implantação e têm até março de 2022 para se adequar ao novo modelo. Para auxiliar ainda mais as escolas em processo de adaptação, fizemos uma entrevista exclusiva com o especialista, que traz dicas valiosas. Confira abaixo!
Quais dicas você tem para as escolas que estão com dificuldades na implementação do Novo Ensino Médio? A que elas precisam ficar atentas neste momento de transição?
Eduardo Deschamps – Eu não posso pensar o Novo Ensino Médio com a cabeça e o modelo mental do antigo. Porque é uma mudança muito forte. A primeira coisa que precisamos entender é que, até agora, no Ensino Médio, o aluno que pretendia fazer Medicina estudava a mesma Física e Matemática que um aluno que optasse por engenharia. E o aluno da Engenharia estudava a mesma Biologia que o aluno de Medicina. Isso fazia do nosso Ensino Médio muito superficial e muito fragmentado. Então, há uma série de conceitos novos que chegam e eu preciso mudar muito o mindset com que encaro ele. O primeiro deles é que vamos ter uma parte em que preparamos para as aprendizagens essenciais, que é a Formação Geral Básica, e uma outra parte, os Itinerários Formativos, que prepara para as carreiras profissionais que o aluno quer seguir. Então, quem quiser fazer cursos na área da Saúde vai estudar mais Biologia e quem quer fazer Engenharia vai estudar mais Física e Matemática. Por isso, é preciso ter claro oque são os conteúdos estruturantes, que todos devem saber, e o que vai ser importante na preparação profissional.
O segundo ponto é que temos que sair da lógica do conteúdo e ir para a lógica do desenvolvimento de competências, que é a capacidade de desenvolver habilidades, atitudes, valores e conhecimentos para a resolução de problemas. Portanto, a estruturação do Ensino Médio tem que ser muito focada em PBL (Problem Based Learning) e em projetos. Essas são as duas grandes mudanças que significam uma alteração na maneira de pensar o Ensino Médio e que, às vezes, apresentam algumas dificuldades para determinadas escolas ao fazer o desenho de seus currículos. À medida que elas começam a compreender isso, fica mais fácil tentar organizar a questão curricular, e muitas das escolas vão se dar conta de que já trabalham assim nas atividades extracurriculares que oferecem. Porque naquilo que excede o currículo, muitas instituições são inovadoras. E essa é a inovação que a gente quer trazer para dentro do currículo.
“Temos que sair da lógica do conteúdo e ir para a lógica do desenvolvimento de competências.”
É importante investir na formação de professores para auxiliar nessa mudança?
Eduardo Deschamps – Sempre, independentemente de ser uma mudança curricular. Quando mudamos o currículo, mudamos a forma e o “produto” que oferecemos. Se eu mudei o serviço, tenho que mudar toda a cadeia interna que passa pelo principal ativo da escola, que é o professor. Ele é o principal elemento que vai fazer com que o projeto pedagógico da escola possa ser bem executado. Obviamente com todo o entorno que é preciso criar, incluindo estrutura, uso de tecnologia e material didático. Uma vez desenhado o currículo, o principal ponto é a formação dos professores para este novo modelo. Porque muitos professores, na sua formação inicial, não foram preparados para trabalhar de forma integrada, com desenvolvimento de competências e habilidades e a interdisciplinaridade. É preciso um vínculo maior do professor com a escola.
Para as escolas que estão se preparando agora, quais são os pontos principais que devem ser revisitados?
Eduardo Deschamps – Quase tudo, do ponto de vista de currículo. Mas isso pode ser feito com um certo cuidado e com modelos de transição. Eu não preciso entrar já na 1ª série com muita mudança. É possível começar com uma carga maior na Formação Geral Básica, colocando Projeto de Vida e algumas eletivas, que são pequenas escolhas que o aluno faz. Isso não é uma mudança tão radical para a 1ª série. E, a partir do 2º ano, ir para a parte mais pesada dos Itinerários Formativos, que é onde se tem que fazer mais mudanças. Observar o que as redes públicas estão fazendo, pois já temos 20 delas com currículos elaborados e em discussão nos conselhos, e olhar para as boas experiências e modelos vai ajudar muito as escolas a se sentirem mais confortáveis. Além disso, quando sair a nova matriz do Enem, vai ser muito mais tranquilo fazer as adaptações de currículo. É um processo gradativo: ninguém precisa sair com os três anos do Ensino Médio prontos ano que vem.
Com esta reformulação, o Ensino Médio no Brasil começa a se aproximar do Ensino Médio em outros países?
Eduardo Deschamps – Sim, de maneira geral. O Ensino Médio em outros países é muito diverso, não existe um padrão. Mas o que existe é um pouco isso: o Ensino Médio dividido em duas grandes partes. Uma delas de aprendizagens essenciais e a outra a parte de aprofundamento, na qual o estudante começa a fazer algumas escolhas a partir daquilo que quer, para que os alunos não fiquem estudando a mesma coisa, até porque as juventudes são diversas. O Projeto de Vida tem um pouco desse objetivo: primeiro o autoconhecimento do aluno, ele precisa se conhecer e saber como ele é, quais são seus pontos fortes e fracos e o que o direciona para determinada carreira ou não.
Gostou dessa entrevista com Eduardo Deschamps? Então saiba mais sobre o Novo Ensino Médio:
- 10 perguntas sobre o Novo Ensino Médio no Sistema Positivo de Ensino
- Como calcular a carga horária do Novo Ensino Médio
- Novo Ensino Médio: saiba como montar os Itinerários Formativos da sua escola
- Quero ajuda de um especialista para me ajudar a implementar o Novo Ensino Médio
Ainda não é conveniado e quer levar o Ensino Médio do Sistema Positivo de Ensino para sua escola? Fale com um consultor.
Está com dificuldades para implementar o Novo Ensino Médio em sua escola? Agende um bate-papo com nossos especialistas.